Luciano Faria

As Olimpíadas são os conhecidos jogos que reúnem, de quatro a quatro anos em uma cidade sede, diversas modalidades esportivas e seus representantes vindos dos mais distantes países dos cinco continentes do mundo. São competições, festividades e premiações, com décadas de história, que tem seu início marcado no Século VII AEC, quando eram jogos que comemoravam o nome de Zeus, o supremo deus da Grécia.

Muito do que se praticava nos primeiros jogos ainda pode ser visto nas Olimpíadas atuais. Lutas, corridas, saltos e manuseio de armamentos (como flechas e espadas). Os jogos na Grécia antiga, que serviam, ao mesmo tempo, tanto como competições e quanto como atividades que preparavam os competidores para conflitos e guerras. Séculos mais tarde, os romanos que absorveram a civilização grega deixaram de praticar os jogos olímpicos em nome das mudanças em seu credo e valores políticos.

Os jogos Olímpicos, na forma que conhecemos nos dias atuais, ressurgem a partir da ideia de um barão francês, chamado Pierre de Coubertin (1863 – 1937, Fig. 1). O Barão de Coubertin era o exemplo de um múltiplo esportista (praticava equitação, remo, esgrima, boxe e tênis) e foi um entusiasta da educação esportiva. Incentivado por descobertas arqueológicas encontradas na cidade de Olímpia, que revelavam os costumes dos jogos da era Grega, Coubertin propõe a criação de uma “International Olympic Committee” (o Comitê Olímpico Internacional) em 1894, na tentativa de reunirem-se países amigos em uma “Competição Atlética Internacional”. Dois anos depois da fundação do COI, a cidade escolhida para a celebração dos primeiros “Jogos Olímpicos” foi a cidade de Atenas, em 1896.

Figura 1: Barão de Coubertin

A justificativa da retomada dos jogos Olímpicos nascia com o aumentado interesse por esportes nos países da Europa, pela facilidade de comunicação oferecida por telégrafos que (poderiam ajudar na convocação de atletas), pelas facilidades de transporte ferroviário e marítimo e, somado a tudo isso, a possibilidade de fazer disputas entre países durante o advento das famosas Exposições Universais que reuniam nações de todos os continentes. Além disso, Coubertin achava necessário que uma competição internacional pudesse unir e fazer avançar os esportes, realizando:

uma competição periódica, para a qual sociedades esportivas de todas as nacionalidades fossem
convidadas a enviar seus representantes para realizar este encontro sob a única bandeira que poderia
lançar sobre elas um santuário de grandeza e glória “o respaldo da Antiguidade Clássica!” Fazer isso
era restabelecer os “Jogos Olímpicos”. Esse nome se impôs sobre nós, não era nem possível inventar outro (Official Report, 1896).

Esportes ou práticas mais violentas ou consideradas obsoletas, como lutas livres com atletas nus, corridas de bigas ou corridas com armaduras, foram abandonadas na nova proposta. Por outro lado, a famosa disputa da Maratona, corrida com distância de 42 km – a mesma distância que separa as cidades gregas de Atenas e a região de Marathónos (Μαραθώνος) – ou atividades como natação, ou iatismo, passaram a fazer parte do calendário esportivo.

Outra marca adotada das Olimpíadas gregas foi a “coroa de oliveiras”, prêmio dado aos vencedores das primeiras competições. Este símbolo ainda é recorrente em algumas premiações e foi o selo adotado pelo COI em suas primeiras publicações no final do século XIX (Fig. 2).

Figura 2: selo olímpico adotado pelo COI em 1894 (Fonte: https://www.alphabetilately.org/Oly/1894.html)

Outros símbolos das primeiras Olimpíadas foram adaptados ou mudaram seu sentido. Um deles, os anéis olímpicos, passaram a ter novas interpretações e designs (Fig. 3). Diplomas que eram entregues aos campeões de cada modalidade foram entregues em alguns jogos e, logo, caíram em desuso pois hoje são responsabilidade de cada uma das associações esportivas (como a FIFA, por exemplo) responsáveis pelos atletas.

Figura 3: os anéis olímpicos decoravam escudos na primeira Olimpíada de 1896 (Official Report, 1896)

Outra mudança significativa ocorreu para reconhecer campeões de cada modalidade dos jogos. Na primeira Olimpíada, ocorrida em Atenas em 1896, os ganhadores foram premiados com uma medalha confeccionada em prata, enquanto todos os demais participantes eram recompensados com medalhas em bronze. Outros prêmios poderiam ser concedidos a cada esportista ou modalidade. O primeiro vencedor da Maratona moderna, por exemplo, o grego e único esportista nacional a ganhar uma prova, Spyridon Louis (1873 – 1940), foi agraciado com uma belíssima copa, a “Taça de Prata de Bréal” (Fig. 3), feita em 100% no nobre metal, e traz a inscrição “JOGOS OLÍMPICOS 1896, TROFÉU DA MARATONA DOADO POR MICHEL BRÉAL”. Pelo feito, Spyridon foi ainda considerado “herói nacional” na Grécia e sempre lembrado como o primeiro vencedor da Maratona em Olimpíadas.

Figura 4: Taça de Prata de Breal

As medalhas, cunhadas em prata para o primeiro prêmio e em bronze para o segundo,
eram verdadeiras obras-primas: o modelo foi criado pelo celebrado artista Chaplain.
Na mesa também estavam os presentes para os vencedores, entre eles uma rica taça
de prata, dada pelo Sr. Breal e um vaso antigo presenteado pelo Sr. Lambros, ambos
destinados ao vencedor da Maratona (Official Report, 1896).

As medalhas em Atenas (Fig. 5) não tinham alças para serem colocadas no pescoço e eram entregues dentro de pequenos estojos. A cerimônia de entrega das medalhas também era bem diferente, pois eram entregues no último dia dos jogos. Após reunirem-se todos os campeões, o Rei da Grécia entregava, a cada um, sua medalha de prata e um diploma no topo de um altar onde não se diferenciava, por altura, a colocação dos ganhadores, ao contrário do famoso pódio das olimpíadas atuais.

Figura 5: imagem da medalha de prata entregue aos campeões de cada modalidade esportiva em Atenas, 1896

As Olimpíadas que se seguiram aos jogos de Atenas, em Paris no ano 1900, foram consideradas caóticas e confusas, isso porque foram realizadas junto à Exposição Universal de Paris, e ficaram em segundo plano, atraindo menos a atenção do público do que as grandes construções, máquinas e invenções. Aos vencedores foram oferecidos prêmios diversos e as medalhas foram esquecidas.

Foi apenas a partir da Olimpíada em Saint Louis, em 1904, que a medalha de ouro (Fig. 6) passou a ser oferecida ao primeiro colocado. A medalha de prata passou a ser oferecida ao segundo lugar e uma única medalha de bronze passou a figurar como prêmio ao terceiro lugar. Não existe uma explicação para o motivo da escolha de cada metal (ou liga, no caso do bronze) para cada premiado, mas deve-se levar em conta que as cores de cada material são facilmente discerníveis entre si, além de figurar sua diferença em um valor financeiro.

Figura 6: medalha de ouro da Olimpíadas de Saint Louis em 1904

Vale pontuar ainda que as medalhas não são produzidas exclusivamente com um ou outro metal. Pelo tamanho e forma, uma medalha feita puramente de ouro custaria um valor excepcionalmente alto. A solução tem sido banhar as medalhas com ouro, ou ainda adicionar outros materiais em sua composição. A medalha de ouro das Olimpíadas de Londres de 2012, por exemplo, continha apenas 1,35% de ouro no total de sua massa, enquanto as medalhas das Olimpíadas de Pequim, de 2008, traziam o mineral Jade em sua composição. Em Paris, as medalhas apresentam ainda uma curiosidade histórica: elas trazem em seu “miolo”, pedaços da Torre Eiffel que foram obtidos a partir de uma reforma necessária efetuada no século passado (Fig. 7). O material é o ferro fundido do qual a Torre foi feita em 1889 para ser exibida em uma Exposição Internacional.

Figura 7: imagem da medalha de ouro das Olimpíadas de Paris, 2024